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ABD-SP

CARTA DE PRINCÍPIOS - ABD SÃO PAULO


A proposta de criarmos uma nova chapa para a diretoria colegiada da ABD parte, primeiramente, da intenção de dar sequência ao trabalho desenvolvido pela gestão de 2013/2014, no sentido de consolidar a atuação de uma entidade que efetivamente represente e defenda o cinema independente, de risco, autoral, popular e não-industrial de São Paulo. A partir do pressuposto de que é obrigação do Estado fomentar este tipo de cinema, a ABD irá atuar de forma autônoma e frente aos órgãos públicos para buscar garantir que esta premissa se cumpra. Não cabe ao Estado investir em grandes empresas produtoras, que se utilizam do cinema única e exclusivamente enquanto capital de giro e objeto de exploração comercial. Este cinema não nos interessa, pois a arte não deve ser mercadoria. Há anos que impera em São Paulo uma cultura industriosa, que historicamente foi, é e será uma pseudo-indústria, que não lida com a demanda concreta mas que cultiva a alienação e precarização do processo de produção e, ao mesmo tempo não concretiza o avanço político-estético no cinema, evidenciado pela ausência de fortuna crítica. A ABD São Paulo defende um cinema que vá contra ao modus operandi empresarial e que o cinema deixe de ser privilégio de uma classe social. Somos radicalmente contra a colonização e “domestificação”* do cinema paulista.

Seguiremos firmes na defesa do documentário e do curta-metragem, mas representamos também muitos associados com longas no currículo ou em processo de realização. Não entendemos o curta e o documentário como objetos menores, mas sim como uma das possibilidades narrativas do cinema, que devem estar em pé de igualdade com as outras. Defendemos estruturas de produção com salários igualitários de acordo com o tempo de trabalho, e que não aliene a equipe durante o processo produtivo. Porém, a nossa atuação vai para além do objeto-filme e defendemos também processos continuados de pesquisa e os coletivos de audiovisual do Estado que têm desenvolvido um trabalho representativo para o avanço da linguagem cinematográfica. No que diz respeito à exibição e distribuição cinematográfica, defendemos a criação de salas públicas e suas administrações pelo interesse público e uma rede de distribuição forte, que garanta a exibição dos filmes, que independa das leis de mercado e que inclua o fortalecimento das televisões públicas. A luta pela democratização dos meios de comunicação também está no nosso programa e passa, principalmente, pela revisão das concessões para os senhores de engenho da mídia. Estaremos em diálogo/confronto com o poder público e toda interlocução será publicizada aos associados da ABD. Teremos também como princípio de ética, que deve ser recuperada dentro do cinema, manter a postura de não indicar membros da diretoria para júris de editais de seleção pública. Defenderemos a reestruturação dos editais, através de critérios mais democráticos e transparentes, e que, principalmente, desconcentrem a produção das mãos de um setor oligopolista do cinema, que insiste em manter São Paulo na retaguarda da vanguarda. Atuaremos também incentivando e promovendo ações de formação que visem a construção processual de conhecimento, assim como ações específicas de incentivo e formação para o aumento do número de projetos inscritos e contemplados nos editais.

 

A ABD São Paulo representa os não representados, o cinema de risco, de invenção, popular, não asséptico, os marginalizados da política audiovisual, a parcela de realizadores que têm sua produção precarizada por conta de uma política estatal que impõe tal marginalização. Somos contra a cultura industriosa paulista, que privilegia o cinema-pasteurizado e o filme-mercadoria (tanto o fast-food quanto os encalhados no estoque).

* junção proposital de domesticação e mistificação.

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